P2

Nessa semana, um P2 virou notícia. No protesto em frente ao Palácio dos Bandeirantes ele carregou uma policial militar caída e a levou até o outro lado. Os jornais deram a foto com uma legenda exaltando o fair play do manifestante. Depois a PM soltou nota dizendo que ele não era professor, e sim policial. “P2” são policiais militares que se inflitram entre quem protesta. Seria a “inteligência” da PM – teoricamente, é a Polícia Civil que deve fazer o papel da investigação. Mas a PM tem os seus P2 mesmo assim.

A primeira vez que ouvi falar de P2 foi da boca de um cara de 60 anos. Ele disse que no fim da ditadura, lá por 78, 79, era comum ter gente do exército infiltrada nas passeatas. Só que todo mundo sabia quem era o disfarçado: eles iam de bota militar. E ele usou essa sigla mesmo, P2. Como se viu recentemente, ainda existem os P2, e eles continuam fazendo bobagem. Eu mesmo já presenciei algumas.

A primeira vez foi numa ocasião em que fui cobrir uma reintegração de posse. Cheguei uma hora antes do horário previsto da chegada da PM. Um cara, com jeitão simples, me chamou de canto. A “liderança” da favela disse baixinho pra mim que o cara era de fora. Um tantinho afastado do pequeno grupo de moradores que me cercava, ele perguntou se eu era “da imprensa”. Na formulação da pergunta ele disse que era jornalista. Respondi que sim, e disse a ele onde eu vinha. E perguntei dele, em qual veículo ele trabalhava. A resposta: “Do Diário Popular”. Quando eu falei que o Diário Popular tinha morrido lá pelo ano 2000, ele deu uma risada sem graça e saiu andando muito rápido. Foi embora pelo alto da favela.

Era P2. Essa foi minha primeira experiência – e a maior – com um deles. A segunda foi em Porto Alegre, e bem mais rápida e menos reveladora.

Acompanhava, então, um campeonato de poquer num “clube” – na verdade, um salão cheio de gente sentada em torno de mesas improvisadas. Foram muitas horas que perdi lá, e às vezes me cansava de permanecer num mesmo ambiente tanto tempo. Ia até a rua, para ficar na calçada, tomar um ar, sem fazer nada – já que não fumo. E daí acabei puxando conversa com um dos seguranças. Num momento perguntei se ele era “brigadiano” – por alguma razão, os gaúchos não tem “polícia” ou “força pública”, eles preferem uma “Brigada”. E ele, na lata, disse que era P2. Me assustei com a maneira descompromissada e sincera com que ele me passou uma informação que, imagino, deveria ser sigilosa. Quando eu quis saber mais, ele desconversou.

Meu terceiro contato com eles foi, potencialmente, o único no qual eu era um “alvo”, por estar entre os manifestantes – dessa vez, como um deles, e não um jornalista. Não estou realmente preocupado com isso, porque acho que não devo ter nem sido notado pelo P2.

Há algumas semanas fui na Bicicletada Pelada – não, não fiquei pelado, nem mesmo sem camiseta. Na hora nem notei, mas depois, na internet vi isso daqui. Segundo o pessoal da Bicicletada, tinha um P2 tirando fotografias, fingindo ser estudante de jornalismo, na concentração. Como eu não chamava a atenção (estava sozinho, um tanto deslocado e com muita roupa), não devo ter inspirado o P2 a fazer meu retrato. Tomara.

4 Comentários

Arquivado em Bicicleta, Jornalismo, Manifestação, P2, Polícia

4 Respostas para “P2

  1. Geórgia

    Achei muito bonitinho e barbudinho pra ser pm, não colou.

  2. Domenica

    hahahahahahahahahahaha!
    adoro caçar p2 nos ‘eventos’. mtos nem parecem…tão…’aptos’ pra serem estudantes de jornalismo ou qq coisa assim.

    agora esse, hmm…digamos que ele tá mais pra p33 msm #fail

  3. O mais engraçado desse post é que você parece estar falando de contatos com alienígenas. Troque P2 por ETs e tente ler. 😉

  4. connor macleod

    a ditadura militar acabou, quero agradecer aos que lutaram pela justiça e a liberdade, que maravilha nao ha mais militares nos abordando a toda hora e ja nao somos mais vigiados pelos agentes do estado, conquistamos muitos direitos, hoje os pais podem ir trabalhar despreocupados, com a certeza de que seus filhos chegarao a escola em segurança e que la terao acesso a um ensino de qualidade, e que nao ha ambiente mais saudavel que o da escola, e apos um dia de trabalho ele vai voltar para o seio de sua familia com a certeza de que nao sera violentado por nenhum marginal e que sua familia tambem esta segura em casa a sua espera, obrigado, hoje posso dormir tranquilo sabendo que meus filhos crescerao num pais onde terao respeitados os seus direitos; so esqueceram de um detalhe com o recuo do estado avançaram os PCC´s e os CV´s, hoje a lei sao eles que fazem, a justiça eles quem escrevem e a tal liberdade eles quem nos ditam, saimos de uma ditadura militar e mergulhamos na ditadura do crime, muito obrigado, hoje tenho meus direitos civis deturpados por essa nova ditadura e nao me sinto tao livre assim; e voce esta gozando da liberdade conquistada? sente-se seguro? e sua familia nao vive sercada por grades? sera que na escola seus filhos terao acesso a drogas ou armas? parabens voces conseguiram, conquistaram a tao sonhada liberdade, hoje voces se sentem realmente livres?

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