Carlos, Erasmo, 40

Carlos, Erasmo completa 40 anos em 2011. Eu confesso, tem poucas coisas que me seduzem mais do que o “resgate” de músico “esquecido”. Ou de músicas – o Tim Maia Racional, antes de estourar, era o máximo. Depois perdeu parte da graça. O raciocínio vale também para artistas plásticos (Raymundo Collares, por exemplo). E para livros. Uma das razões pelas quais eu gostei de O Caso do Camarada Tulayev, do Victor Serge, foi que o livro só teve uma edição no Brasil, na década de 50. Depois nunca mais. O adjetivo “cult” era só para discos/livros/filmes com essas histórias. Hoje tem um significado distinto, mais próximo de do que os americanos chamam de “highbrow“.

Não dá pra dizer que o Erasmo Carlos é um cantor “obscuro”. Muito menos compositor “obscuro”. Ele escreveu um dos maiores sucessos comerciais de todos os tempos, Detalhes. Mas para mim ele era. Não tinha nenhum disco do Erasmo Carlos na casa dos meus pais. Tinha (ainda tem) algumas centenas de discos dos figurões da MPB (aqueles mesmos). Até pouco tempo eu só tinha ouvido músicas dele como piada, pensando no rock “primário” da Jovem Guarda como algo muito incipiente e, por isso, meio ingênuo.

Fantasiado de figurante de "Pantanal"

De uns anos para cá, vários músicos começaram a falar da fase começo dos anos 70 do Erasmo. Época do Carlos, Erasmo. Só elogios. Daí eu fui ouvir. E é brilhante. Não consigo descrever música, então posso dizer alguma bobagem aqui. Mas aí vai. Alguns arranjos do disco dão uma sensação de preguiça, como “De Noite na Cama” e “Maria Joana”. Outras canções como “Dois Animais na Selva Suja da Rua” e “26 Anos de Vida Normal” parecem urgentes, tensas, músicas de suspense. E ainda tem um som meio “malandro” de “Agora Ninguém Chora Mais” e “Não Te Quero Santa”. E tudo isso num único disco (às vezes numa única canção) não é pouco.

No ano passado o Marcelo Jeneci lançou “Feito Pra Acabar”. Foi considerado um dos melhores discos do ano passado – e realmente é. Sei que o propósito do Jeneci não é fazer um som que soe estranho ou pouco familiar. Mas às vezes o meu iPod está em modo aleatório e eu confundo os dois. “Masculino, Feminino”, do Erasmo, é a cara do Jeneci. Ou melhor, as canções do Jeneci são a cara de “Masculino, Feminino”. O que os separa são 40 anos.

2 Comentários

Arquivado em Erasmo Carlos, Marcelo Jeneci, Raymundo Collares, Tim Maia, Victor Serge

2 Respostas para “Carlos, Erasmo, 40

  1. bruna

    HAHAHAHA quanta orelhada num post só

  2. malg

    amo esse disco. “é preciso dar um jeito meu amigo” tem a melhor linha de baixo da música brasileira.

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